Grande parte do acervo do Museu Histórico de Londrina não está em exposição

Tudo estava escondido na gaveta de um móvel antigo da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná. Eram fotografias da construção da ponte do Rio Tibagi, que abriu caminho para o que viria a ser a cidade de Londrina, no início da década de 1930. Algumas sem autoria, outras do fotógrafo José Juliani. Junto havia documentos, mapas, plantas e projetos do traçado da ponte e da linha férrea da época, tudo doado ao Museu Histórico Padre Carlos Weiss (R. Benjamin Constant, 900), em 2010, pelo antigo ferroviário da empresa, Jairo Teixeira Diniz.

No Museu Histórico de Londrina existe um mundo de objetos, fotografias e documentos escondidos no acervo. Quase 57 mil em audiovisual e 6 mil objetos. Mais que isso. Uma infinidade de histórias, memórias e lembranças. Tudo disponível para pesquisas e consultas e, eventualmente, alguma exposição.

Fotografias, por exemplo, retratam costumes e hábitos dos desbravadores da região. Gente que derrubava a mata e, pelas florestas, levantava acampamento. As fotos mostram como tomavam banho, como cortavam o cabelo, quais animais matavam para comer.

Da construção da ferrovia, algumas imagens mostram negros acorrentados pelos pés na mira de trabucos de policiais vestidos com farda getulista. “A nossa hipótese é que eles usavam prisioneiros na construção das ferrovias”, aponta Regina Alegro, diretora do museu.

Não somente fotos, mas documentos e cartas fazem parte do acervo, como uma troca de correspondências em alemão, coleção doada por Oswald Nixdorf. Uma voluntária de origem alemã traduziu o que foi possível. As cartas vinham assinadas com a saudação nazista Heil Hitler.

“As cartas falam sobre madeira no Brasil, exportada para outros países. Uma das correspondências é de Erich Arnold von Buggenhagem. Essa era a profissão deles. Selecionavam e exportavam”, diz Rosângela Ricieri Haddad, bibliotecária do museu. Mas os alemães tiveram de ganhar a vida no Brasil. “Fui pesquisar e o Arnold foi professor da área de agronomia na cidade São José do Rio Preto, no Estado de São Paulo. A gente deduz que, depois da guerra, como as cartas eram assinadas com o Heil Hitler, esses alemães tiveram de se virar por aqui.”



Outra curiosidade está no livro de hóspedes da Cia. de Terras Norte do Paraná. A primeira hospedagem data de janeiro de 1930. No ano seguinte, no dia 1º de abril, uma página em branco estava reservada para a visita do príncipe de Gales, que viria a ser o rei da Inglaterra Eduardo VIII (governou entre 20 de janeiro e 11 de dezembro de 1936, até abdicar do trono). “Esperavam a visita do príncipe, que não ocorreu. Por causa da chuva, a comitiva parou em Cornélio Procópio”, diz Rosângela.

Capacetes, fardas e balas de canhões

Além de fotos, objetos também lembram a época das guerras mundiais e de conflitos brasileiros. Uniformes de pracinhas, marmitas com nomes de soldados, chapéus, paraquedas e bombas.

Uma das bombas é antiaérea, fabricada pela Cia Paulista da Estrada de Ferro e doada em 1995 por Carlos Caviglione. Foi utilizada na Revolução de 1932, no Avião Vermelhinho, dos paulistas contra os federalistas.

Já a bala de ferro para canhão veio da Primeira Guerra Mundial, doação de Manoel Garcia Cid. Os capacetes também: um veio da Segunda Guerra Mundial e outro da Revolução de 1932. Assim como jaquetas, cinturão, bolsa, luvas e marmita – que era do ex-pracinha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Katsuichi Yamada.

“A maior parte do acervo não fica exposta. Mas pode ser pesquisada”, explica Regina Alegro, diretora do museu. Ou então, destacado para alguma exposição. “Depende, se for temática”, justifica Amauri Ramos da Silva, do setor museológico.

Serviço

Museu Histórico Padre Carlos Weiss (R. Benjamin Constant, 900). De terça a sexta-feira, das 9h às 11h30 e das 14h30 às 17h30. Sábados e domingos, das 9h às 11h30 e das 13h30 às 17h. Informações: telefone 3323-0082.

Fonte: Jornal de Londrina





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